quarta-feira, março 25, 2009

Die, hippie, die!

Acho que eu nunca comentei aqui, mas eu detesto vendedor insistente de qualquer tipo. Seja o chato do telemarketing que tem absoluta certeza que você precisa do cartão de crédito deles que dá não-sei-quantos dias no cheque especial e acumula pontos pra trocar por sei-lá-o-quê (mas desliga na sua cara quando você conta que não trabalha), quanto a atendente do fastfood que não aceita que você só quer o sanduíche e não a promoção inteira, ou que você é louca de não querer aumentar a sua dose de colesterol diária, ops, batatas fritas por apenas um real. É parte da profissão deles, mas foda-se, não preciso achar legal depois de um certo ponto.

Mas tem uma classe bem particular de vendedores que anda me dando nos nervos: são os hippies ambulantes. Olha, eu confesso que já tive a minha fase de usar brinco de pena, blusa indiana e saiona comprida, e desses hábitos só mantive o último (e ainda assim ando usando bem mais uma saia preta simples do que as indianas- deve ser antipatia dessa novela nova). Fora que depois que eu passei a poder ser presa, minha pele desenvolveu uma alergia horrorosa à maioria das bijouterias: só consigo usar por algumas horas, e então a coceira começa.

Já estava acostumada a ver esse pessoal oferecendo seus "trampos", e dá-lhe mostrar um monte de brinco e colar pendurados num veludo colorido. Algumas peças são muito bonitas, mas outras são uns arames retorcidos bem bregas. Tem uns que chegam, mostram, você solta uma negativa e eles agradecem e saem.

O problema são os hippies insistentes. Você tá lá tomando uma cerveja e num papo animadíssimo com os amigos, e vêm o cara insistindo que tá vendendo "arte". OK se ele considera as peças dele assim, mas por causa disso eu tenho obrigação de comprar, ainda que nem sonhe em usar? Não, valeu, prefiro meus 5 mangos em cerveja gelada.

Ultimamente eles tem usado mais dois tipos de abordagem quando eu digo "não, obrigada": uma delas é insistir que você compre pra
"inteirar a passagem do ônibus". Outra é te enrolar com uma conversa rápida qualquer e falar que vai te "fazer uma lembrança" em troca de uma "contribuição voluntária". A tal "lembrança" é qualquer coisinha de metal retorcido: um anel com uma estrela, um pingente de berimbau, algo assim. Sinceramente? Isso pra mim é coação: o cara faz a porcaria que quiser, e mais fácil a pessoa dar um real a dizer que não quer ou que ficou feio, e muito difícil alguém dar centavinhos. E em troca de uma coisa q vai chegar em casa e jogar fora, ou largar no fundo de uma gaveta.

Essa semana tive que ouvir essa conversa quando passava na Praça 7, onde tem um corredor com uma fila de hippies vendendo as tralhas deles (e quase todas tranqueiras de arame). Ouvi o cara, disse que realmente não tinha interesse e vazei rapidinho. E o segundo que tentou me abordar eu passei reto. Eu podia deixar o cara fazer o "trampo" de arame pra mim, mas pensei e concluí que não ia ter saco pra bater boca pra não ficar com o troço.

Na próxima vez que eu tiver que passar por aquele corredor, vou usar uma camisa do Cartman com o título desse tópico. Problema resolvido.

segunda-feira, março 09, 2009

Dispenso a rosa


Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: "parabéns".

Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde "obrigada", pensando: "mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?".

Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.

Dizem que a rosa simboliza a "feminilidade", a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade -- da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo "deflorar" (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a -- afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são "putas", inferiores, menos respeitáveis.

A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o "sexo frágil" e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger.

Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro.Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes "passionais" -- o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como "românticos" exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que "amam demais", não os homens.

Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladores, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a "sedução" para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de "respeito" e as mulheres têm "mentes perigosas". A mensagem subliminar é: "cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado". E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua "mente perigosa" causaria coisas terríveis.

Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo "pós-feminista" afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?

Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 10oº lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso -- onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.

A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor...). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua é alterada ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser "feminina".

Porque, sim, feminilidade é isso: é "se cuidar". Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: "let yourself go"). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. "Você se ama? Então corrija-se". Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.


Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.

Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são "convidativas", propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir.
Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio, isso nunca vai deixar de existir.

Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo "ê lá em casa" para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o "combo" da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando "chupá-la todinha".


Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário
...

Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu cu.



Texto escrito por Marjorie Rodrigues, mas diz exatamente o que penso sobre o dia das mulheres.

sexta-feira, março 06, 2009

Da série "se resolveu fazer, então faz bem feito"

Destaque da primeira página do Yahoo de hoje, aqui.

O mesmo site que fez essas photoshopadas porcas, que eu nunca vi mais gordo, já fez uma tranqueira do mesmo naipe uns tempos atrás: pegou fotos de atrizes e cantoras gostosonas e usando de muito efeito liquify colocou todas bem gorduchas. O resultado foi igual ao desse aí, tudoamemamerda.

Por falar em fotoxopági tosca, esse site aqui é excelente: Photoshop Disasters. Tem uns que você tem que olhar bastante pra ganhar o jogo dos 7 erros, mas em outros a cagada é tão gritante que a gente se pergunta como é que aquilo foi aprovado e ganhou as ruas.

Ah, e eles aceitam contribuições, e já vi material nacional por lá. Vide a menina de braços megacompridos da propaganda da Oi e o sumiço de um importante elemento do traseiro da Sabrina Boing Boing...

terça-feira, março 03, 2009

Casa de ferreiro...

Caros leitores desse blog, gostaria que vocês olhassem a capa desse livro de desenho. Prestem atenção no nome do livro (ou seja, o que ele se propõe a ensinar) e nas imagens ilustrativas:


Olha, eu acho que o autor do livro está precisando seguir os próprios conselhos, ou aprimorar o seu traço. Porque as mulheres que ele desenhou nessa capa não me apeteceram, não...